A mesa redonda III do Angola Hub Transporte e Logística Summit 2025, que decorreu de 17 a 19 de Outubro, no Centro de Convenções de Talatona, reuniu especialistas e gestores do sector para debater o tema “Angola como plataforma estratégica para o comércio e logística regional”.

O administrador da área Comercial, Sustentabilidade, Compliance e TIC do Porto de Luanda, João Fernandes, foi um dos intervenientes e defendeu a necessidade de se “pensar global” na definição das estratégias de desenvolvimento do sector.

“Não faz sentido melhorarmos apenas as nossas infra-estruturas se os países vizinhos, como a Zâmbia e o Congo, não fizerem o mesmo. Essa estratégia de comércio regional só funcionará se houver uma visão global”, afirmou.

João Fernandes sublinhou ainda que as parcerias público-privadas (PPP) constituem um instrumento essencial para viabilizar projectos de infra-estruturas. “O Estado tem as infra-estruturas, mas precisa de financiá-las. Como nem sempre tem recursos, as parcerias com o sector privado tornam-se uma via estratégica”, explicou, destacando que “as infra-estruturas portuárias são as que mais facilmente geram rendimento e sucesso”.

O administrador lembrou que o Porto de Luanda é um dos mais completos do país, com todos os serviços constituídos desde 2005, e que a articulação entre os portos de Luanda, Lobito e Namibe é fundamental para consolidar a integração logística e económica entre as regiões Norte, Centro e Sul.

Na mesma mesa redonda, o representante da KPMG, Carlos Borges, reforçou a importância de definir prioridades nos investimentos em transportes e logística, lembrando que “o país é muito grande e não se pode fazer tudo ao mesmo tempo com o mesmo nível de profundidade”.

Para Carlos Borges, as decisões devem basear-se em critérios objectivos e informação fiável. “Temos de ter sistemas de informação robustos, que garantam qualidade e suporte às decisões. Muitas vezes, a dificuldade está em não haver dados suficientes para planear com confiança”, observou.

O especialista defendeu ainda uma visão pragmática e cooperativa na execução de projectos públicos. “Os projectos não são apenas dos Transportes, da Energia ou das Obras Públicas; são do país. É preciso haver colaboração multissectorial e decisões claras e assertivas”, referiu

Carlos Borges rejeitou a visão de que a estratégia logística de Angola deva continuar condicionada pelo modelo herdado do período colonial. “Temos de terminar com a visão colonial ou pós-colonial. Somos responsáveis pelo que fazemos hoje.” Para o consultor, o desafio passa por transformar gradualmente Angola de um país importador para um país produtor e exportador, começando pela capacitação das pessoas e pelo consumo dos produtos nacionais.

O responsável acrescentou que Angola pode afirmar-se como plataforma logística regional, servindo economias sem acesso ao mar, como a Zâmbia. “Devemos criar infra-estruturas dedicadas à Zâmbia, tanto no Namibe como no Lobito, para apoiar as suas importações e exportações. Pensar global é pensar também nos nossos vizinhos”, defendeu.